10 de outubro de 2020

Unsaid things

Eu tenho muitos fantasmas do passado me assombrando

E isso está cada dia mais me afundando em frequentes crises de ansiedade, que englobam crises de compulsão alimentar, crises de choro, desânimo e isolamento. Eu sei que deveria voltar a fazer terapia, mas o financeiro não torna isso possível no momento. Então é por isso que eu mostro ao mundo que estou bem, quando na verdade eu estou pior do que nunca. Eu costumo bater no peito e dizer para todos que não minto, mas enquanto escrevo percebi que eu sou a maior das mentirosas. Eu sou ótima em fingir um sorriso enquanto digo as palavras: "Estou bem.".
Eu consigo identificar claramente meus gatilhos, meu comportamento diante deles e sua origem, contudo por mais que eu tente lutar contra, eu não consigo. Eu cansei de lutar. Eu cansei de me esforçar tanto. Estou ignorando minha vida e vivendo outras histórias. Como assim? Mergulhando de cabeça e literalmente me apaixonando por histórias de séries da Netflix termo genérico para plataformas de streaming

Quando eu racionalmente coloco em palavras meus sentimentos, inseguranças e paranoias, eu vejo o quão patética e fraca eu sou, mas como ser diferente?

Minha grande ferida, que tento desesperadamente curar com um simples band-aid, é a rejeição

A maioria das vezes eu me afasto, como uma defesa, para evitar que se concretize. Logo, eu mesmo provoco esse sentimento em mim. Eu começo a me sentir sozinha, desamparada. Sinto que sou eu sozinha contra o mundo. A vida adulta é um tanto quando assustadora de encarar sozinha. As finanças, responsabilidades, inseguranças, desejos e sonhos.
Depois vem o pensamento de que se eu estou sozinha é porque eu mereço. Porque eu não sou boa o suficiente. Porque eu sou gorda, porque eu tenho espinhas, porque não entro em minhas roupas, porque eu como demais, porque eu não sou feminina o suficiente, recatada o suficiente, porque eu sou grossa, porque eu falo palavrão, porque eu não me importo com o outro, porque eu não sou gentil ... por que eu não correspondo as expectativas?
Então, vem as feridas do último relacionamento. Eu fui abandonada, porque eu não era submissa o suficiente para ele.  Ele dizia que eu era inocente demais, que eu não me dava o respeito, que eu não respeitava ele ... Eu o amava tanto, eu me doei tanto. Eu permiti que ele entrasse em minha vida, por completo. Dividíamos a mesma cama e eu compartilhava meus pensamentos com ele. Sabe quando algo não tem serventia mais para você, quando você cansa de algo e joga no lixo? Foi assim que eu me senti. Eu estava aos pedaços, sangrando, jogada no meio do universo. Usei toda a força que eu tinha e a que não tinha, para ficar bem e ser feliz, mas isso só fez com que eu me perdesse e me machucasse mais. Minha psicóloga disse que era como se eu tivesse perdido alguém para morte, pela forma drástica que ele saiu da minha vida. Ela disse para eu viver o luto. E foi aí que as coisas pioraram. Me afundei de uma forma que estou me afogando no fundo do poço. Uma verdadeira areia movediça, quanto mais eu luto, pior fica a situação.
O próximo pensamento que tenho é que estou decepcionando àqueles que algum dia acreditaram em mim. Que confiaram em minha vitória, que se espelharam em mim de alguma forma, que me falaram que eu era forte. Meus amigos, minha família, meu pai. Desculpa, mas eu não sou. Eu tentei suicídio, e por mais surtada, irresponsável e impensada que foi essa ação, eu me arrependo de não ter dado certo. Eu me envergonho, eu me culpo, eu me odeio por ter sido tão fraca. Não faria isso de novo, de forma alguma, mas eu queria poder apagar isso de alguma forma da minha história, porque eu não sei lidar com esse acontecimento.
Eu já fui tão forte e determinada. Eu usava os machucados, problemas e dúvidas para me impulsionar, para alcançar meus objetivos, para esfregar na cara de quem me machucou ... mas hoje, eu não sei onde essa garota sonhadora foi parar. 
Eu sei que minhas maiores feridas, foram feitas pela minha mãe. Eu sei que não foram intencionais, mas foram feitas por ela. Todas às vezes em que eu precisei dela, a pessoa que deveria ser o porto seguro de qualquer pessoa, ela ou não estava ou me deu pedras. Ela que tanto defendeu a terapia e o serviço social, quando eu comento sobre algo que me feriu, algum trauma, faz questão de me chamar de mentirosa e de forma grosseira dizer que eu sou louca, que eu culpo ela por tudo de ruim da minha vida, que ela não fez nada do que digo, que eu sou uma doente mental e preciso me tratar.
Eu só tenho flashs dos meus 9 anos para trás, mas lembro de quando fui para Campo Grande e meu pai, com toda sua forma sistemática de ser, cuidava de mim, mostrava todo seu amor por mim por meio de atos de serviço e tempo de qualidade. Então voltei para Curitiba e esperava o mesmo da minha mãe. Mas me senti completamente desamparada. Eu agradeço a minha infância e principalmente ao meu pai por eu ser tão responsável e fazer o certo porque é o certo, porque se não eu teria me perdido há muito tempo atrás. Foram 4 anos em que minha mãe me jogou contra meu pai e isso me machucava tanto. Em que ela estava vivendo a "adolescência" dela e eu a via pouco, e quando nos encontrávamos, era uma relação de amizade. Eu era a segunda opção. Eu já tinha 11 anos, na cabeça dela eu já sabia me cuidar. Eu não sabia, mas eu precisei aprender a me cuidar. Eu precisei amadurecer. Eu aprendi a usar a grosseria e a bater de frente com as pessoas, como forma de me proteger e me defender, de proteger minha vulnerabilidade e fraqueza. 
Tem duas lembranças que me assombram e me ferem todas as vezes que recordo. A primeira é de uma briga com minha mãe em que critiquei a papada do pescoço dela. Era uma briga como de costume, como qualquer outra, mas eu peguei pesado, porque sabia que afetaria ela. E afetou de uma forma que eu não estava pronta para lidar. Machucar ela daquela forma, ver a dor em seus olhos, me deixou uma marca. A segunda lembrança ... eu estava no sofá e por algum motivo brigamos e depois dela desligar a televisão para eu prestar atenção nela, levei alguns tapas na cabeça enquanto ouvia que eu era insuportável, que por isso ninguém ficava comigo e que eu morreria sozinha. Eu sei que essa palavras entraram em meu inconsciente e que me levam a concretizar tais dizeres.
Não sou uma pessoa rancorosa, eu já perdoei 98% das pessoas que me fizeram mal de alguma forma (só me vem dois nomes em mente que eu guardo mágoa. O moço que invadiu meu apartamento e furtou meu notebook e uma menina que me fez perder um feriado na eear.), mas a verdade é que tem uma pessoa que eu não consigo perdoar de jeito nenhum. EU.
Todas as minhas decisões foram para me proteger e em uma desesperada busca por amor. Apesar de eu ter muito do que um dia sonhei e existirem mais algumas coisas que desejo realizar e conquistar, me sinto perdida e frustrada. Eu só quero ser amada, mas como alguém será capaz de me amar se nem mesmo eu me amo? Eu quero encontrar alguém que corresponda as minhas expectativas e me ame, mas eu não estou sendo capaz de amar ninguém. Seria até injusto da minha parte arrastar alguém para o meio dessa destruição.

Eu queria ser capaz de pedir socorro de forma clara, mas eu fico apenas esperando que através de palavras e ações as pessoas percebam meu desespero e de alguma forma me salvem de mim mesma.

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